DEU NA GLOBO
06/03/2023 - 23:07
O imbróglio jurídico que se instalou pela troca da implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) pelo Bus Rapid Transit (BRT) foi tema de reportagem do Jornal Nacional, da Rede Globo, desta segunda-feira (06.03). A matéria jornalística destacou que o VLT, previsto para a Copa do Mundo de 2014, já consumiu mais de R$ 1 bilhão e agora será desfeito para dar lugar ao BRT, na região metropolitana de Cuiabá.
Conforme a reportagem, a construção do VLT parou ainda em 2014, depois que a Polícia Federal e o Ministério Público denunciaram corrupção e desvio de dinheiro. Na região Metropolitana de Cuiabá, as obras de um projeto que deveria ter ficado pronto oito anos atrás e que já custou mais de R$ 1 bilhão agora estão sendo demolidas. Os 280 vagões que transportariam 160 mil pessoas por dia vieram da Espanha, avaliados em quase R$ 500 milhões, e continuam no mesmo lugar, preservados pelo consórcio que implantaria o VLT.
“A gente faz toda a manutenção nos veículos, tanto a parte de zeladoria, manutenção preventiva, testes, engraxes, lubrificações, e a gente passa todos esses relatórios, protocola no governo do estado de Mato Grosso”, diz o engenheiro de teste José Raimundo dos Santos.
O ferro que veio da Polônia e a borracha da Itália usados nos trilhos estão sendo retirados por máquinas pesadas. De dia, de noite e de madrugada, e se misturam a montanhas de entulho. “É tanto ferro ali que arrancaram, tanta coisa ali que estragaram, gente, o que é isso? Isso aí é um dinheiro que nós vamos pagar”, afirma a cuidadora Raquel Souza Silva.
Dos 22 quilômetros de trilhos previstos no projeto, seis já estavam prontos na Região Metropolitana de Cuiabá. Agora quase tudo isso, segundo o consórcio responsável pela obra, deve ser jogado fora. Com a destruição, já são quase R$ 89 milhões desperdiçados só em trilhos, pelos cálculos do consórcio. O VLT era uma das obras para Copa do Mundo no Brasil. O então governador Silval Barbosa chegou a ser preso e fez delação premiada. A obra já custou R$ 1 bilhão, e o consórcio, numa estimativa feita cinco anos atrás, calculava que precisaria de mais R$ 922 milhões para terminar. O Governo do Estado rompeu administrativamente o contrato com o consórcio em 2017, na gestão de Pedro Taques. O consórcio recorreu na Justiça e teve o recurso negado.
MUDANÇA - Em 2020, o atual governador, Mauro Mendes, decidiu fazer a substituição do modal, de VLT para BRT, que era a escolha inicial do estado, dessa vez com ônibus elétricos. O governo disse que a mudança para o BRT está baseada em um estudo técnico. O VLT é um trem de superfície movido a energia elétrica. Já o BRT é o serviço de ônibus que usa corredores exclusivos. “Fizemos um estudo muito profundo com a participação de entes federais, do estado, de prefeituras, e chegamos à conclusão de que o BRT é moderno, eficiente e vai custar praticamente a metade do preço que nós gastaríamos só para terminar o VLT”, diz o governador Mauro Mendes.
O coordenador de Mobilidade Urbana do Instituto Nacional de Defesa do Consumidor, Rafael Calabria, diz que a troca de VLT para BRT é um retrocesso. “Os benefícios que o trilho trás em sustentabilidade, em capacidade de passageiros e na diversidade de opção que a cidade vai ter são muito melhores do que no BRT. Então investimento um pouco maior se justificaria. Ainda mais no caso de Cuiabá, que já começou a obra, seria só finalizar. Então o BRT, além de uma opção errada, vai ter um desperdício de dinheiro público”, afirma.
A licitação do BRT já foi feita, mas o Ministério Público de Mato Grosso investiga supostas irregularidades na licitação. A denúncia foi feita pela Prefeitura de Cuiabá, que é contra a mudança. “Não há o menor bom-senso em dizer com BRT que está começando do zero é mais barato que o VLT, que já tinha 70% das obras executadas e boa parte dos seus recursos pagos”, ressalta o prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro.
Quem usa o transporte coletivo, hoje feito apenas por ônibus, reclama. “Tem que ter qualidade. A gente entra no ônibus assim, aquele calor, a gente que tem pressão alta, tem tudo, estou vendo a hora da gente ter um ‘piripaque’”, diz a aposentada Eugênia Joaquina da Cruz. “Eu espero que saia logo, para que a gente possa usar, ter mais um pouco de conforto”, afirma a cuidadora Raquel Silva.
O que dizem o governo e o consórcio - O governo de Mato Grosso declarou que o contrato previa que o VLT seria entregue pronto, que os equipamentos comprados são do consórcio responsável pela obra e que entrou na Justiça para receber indenização de todo o valor que o estado investiu. O consórcio VLT Cuiabá-Várzea Grande afirma que o desmonte do projeto não encontra amparo de ordem técnica ou econômica, que mantém a guarda e manutenção dos trens até uma decisão da Justiça e que sempre esteve à disposição do estado para uma solução legítima e viável para concluir o projeto.
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