CRISE
Após cancelar passagens, 123 Milhas entra em recuperação judicial com dívida de R$ 2,3 bi
Pedido está em tramitação na Vara Empresarial de Belo Horizonte
GILSON NASSER
29/08/2023 - 14:07
Foto: Reprodução
A 123 Viagens e Turismo Ltda, conhecida como 123 Milhas, ingressou com pedido de recuperação judicial junto a 1ª Vara Empresarial de Belo Horizonte. A alegação é de uma dívida total de R$ 2.308.724.726,25.
A 123 Milhas ganhou repercussão nacional recentemente quando decidiu suspender as emissões de passagens e pacotes da linha PROMO (com datas flexíveis) com previsão de embarque de setembro a dezembro de 2023. As vendas desse produto já haviam sido interrompidas na última quarta-feira.
Diversos clientes sofreram prejuízos por conta do cancelamento de passagens. Em Mato Grosso, inclusive, a Defensoria Pública realizará um mutirão com passageiros lesados pela empresa.
Além da "123 Milhas" - considerada a empresa principal -, os pedidos englobam ainda a Art Viagens e Turismo Ltda e a Novum Investimentos e Participações, ambas do mesmo grupo econômico.
"Vale destacar, ainda, que a Requerente 123 Milhas atende em seu e-Commerce uma média de 5 milhões clientes por ano, bem como gera atualmente 309 (trezentos e nove) empregos diretos e outras centenas de empregos indiretos, ao passo que a Requerente Art Viagens, por sua vez, emprega atualmente 118 (cento e dezoito) trabalhadores diretos", diz o pedido de recuperação judicial.
Na inicial, os advogados explicam que o momento econômico delicado do grupo já se tornou de conhecimento público com o cancelamento dos produtos adquiridos no Programa Promo 123. O programa permite ao cliente comprar a passagem aérea ou pacote sem data definida por um preço mais vantajoso.
Todavia, a empresa não esperava que a clientela, em sua imensa maioria, focasse apenas nas passagens aéreas, o que acabou gerando um "fracasso" financeiro.
"A Requerente 123 Milhas reconhece que os resultados previstos mediante estudos preparatórios do Programa Promo123 acabaram não sendo atingidos, porque, por exemplo, se acreditava que para cada voo vendido, o
cliente também adquiriria outros produtos atrelados à viagem (reservas de hospedagem, passeios etc.), mas isso acabou não ocorrendo na prática. Ainda, pode-se notar que o cliente do produto Promo123 é diferente dos demais clientes da companhia, uma vez que apenas 5% (cinco por cento) dos clientes frequentes da 123 Milhas efetivamente compraram os produtos do Programa Promo123, percentual muito inferior ao previsto e
que impediu a efetivação do cross sell esperado", afirma.
Além disso, a "123 Milhas" esperava a redução no preço das passagens para aumentar as vendas, principalmente após o fim das restrições causadas pela Covid-19. "Isso, contudo, infelizmente não se concretizou, havendo, na verdade, um aumento significativo da demanda (muito maior do que a oferta) por voos nacionais e internacionais, o que, aliado ao aumento do preço do combustível de aviação, ocasionado pela queda do real em relação ao dólar e a alta da inflação, fez com que o preço das passagens e pacotes se elevassem", argumenta.
"Não bastasse, as companhias aéreas alteraram seus sistemas de segurança e criaram barreiras que impedem o sistema da 123 Milhas de pesquisar passagens vendidas com pontos/milhas, dificultando, assim, o desempenho das atividades das Requerentes, afetando negativamente o crescimento das vendas da companhia e, consequentemente, a sua geração de caixa", complementa.
Na sequência, os representantes da empresa afirmam que a crise é passageira e que a recuperação judicial é mais um "aliado" para ajudá-los a renegociar dívidas, manter as atividades e preservar os empregos que gera. "E, neste caso, é cristalina a viabilidade econômica das Requerentes, que possuem os meios necessários e o know how para manter a atividade empresarial e obter lucros com sua atividade. Relembre-se que as Requerentes possuem corpo profissional altamente qualificado e experiente nos setores, além de possuírem, até os dias atuais, uma posição de destaque nos segmentos de turismo e viagens".