A cada dia, novas pesquisas mostram as consequências de longo prazo da infecção pelo coronavírus. Um estudo feito na Universidade de Boston, nos Estados Unidos, mostra que a Covid e a Covid longa podem afetar a vida sexual das mulheres.
O trabalho publicado no Journal of Sexual Medicine, em dezembro de 2023, é o primeiro a destacar as consequências prolongadas da Covid na excitação, lubrificação e orgasmo das mulheres.
“Se você está doente com Covid, provavelmente está menos interessado em sexo e talvez seu corpo esteja menos preparado para fazer sexo. Mas o que pode ser surpreendente é que os sintomas prolongados de Covid podem realmente ter um impacto fisiológico e psicológico no bem-estar sexual das mulheres”, relata a professora assistente de ciências psicológicas e do cérebro da Universidade de Boston, Amelia M. Stanton.
Para descobrir os impactos da infecção pelo coronavírus na vida sexual, os pesquisadores realizaram entrevistas online com cerca de 2 mil mulheres.
Metade delas tinha pelo menos um diagnóstico positivo para a Covid, e as demais nunca tinham sido infectadas. Elas responderam perguntas como: “Nas últimas 4 semanas, com que frequência você sentiu desejo sexual?” para medir fatores como excitação e satisfação a partir do Índice de Função Sexual Feminina (FSFI, na sigla em inglês).Play VideoApenas as mulheres que tiveram relações sexuais no mês anterior foram incluídas nos resultados.
Entre aqueles que tiveram Covid, os níveis de desejo, excitação, lubrificação e satisfação foram todos mais baixos do que nas voluntárias não infectadas. As pontuações de orgasmo e dor não foram significativamente diferentes entre os dois grupos.
Ao fazer um recorte mais detalhado, separando as mulheres que tiveram Covid e se recuperaram sem sequelas e as que persistiram com Covid longa, os pesquisadores observaram que as participantes do primeiro grupo ainda estavam dentro da faixa funcional esperada.
Já as com Covid longa tiveram pontuação média disfuncional. Elas tinham níveis de excitação, lubrificação, orgasmo e dor bem piores.
A Covid prolongada também é comum após as versões leve e moderada da infecção, sem que o paciente tenha precisado de hospitalização. Cerca de 80% das pessoas que pegaram a doença ainda tinham algum sintoma pelo menos duas semanas após a cura do vírus.
Os pesquisadores acreditam que a infecção pelo coronavírus pode estar associada ao comprometimento dos aspectos cognitivos e fisiológicos da função sexual. Da mesma maneira, como o corpo e a mente levam algum tempo para voltar ao pleno funcionamento no trabalho, estudo e exercícios físicos, o mesmo aconteceria em relação ao sexo.
“Sexo, sexualidade e função sexual ainda são assuntos relativamente tabu. Mas esses resultados oferecem algo que os pacientes podem trazer aos seus prestadores de cuidados e dizer: ‘Isto está acontecendo comigo’, e talvez criar um diálogo aberto em torno do sexo”, sugere a Amelia.