Depois de anos sem aparecer na imprensa, o ex-deputado José Geraldo Riva concedeu uma entrevista ao Programa Wilson Santos na noite desta terça-feira (23). Entre os assuntos tratados, ele detalhou a relação da Casa de Leis com o ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro. "Quando assumi, em fevereiro de 1995, tomei conhecimento que a Assembleia [Legislativa] devia, só para o comendador Arcanjo, R$ 27 milhões".
Segundo Riva, ele ficou sabendo da dívida cerca de 15 dias após ter assumido o mandato, em uma reunião no antigo Hotel Eldorado em que participaram políticos como Gilmar Fabris, Paulo Moro, Humberto Bosaipo, Nilson Roberto Teixeira entre outros nomes que ele preferiu não revelar.
"Só para se ter uma ideia, o duodécimo da Assembleia naquele ano era de R$ 36 milhões. Houve suplementação e deve ter fechado em R$ 45 milhões. Na prisão do Arcanjo [em maio de 2003] nós já tínhamos fechado o pagamento do Arcanjo", revelou.
O pagamento foi realizado através de parcelas mensais, com dinheiro da suplementação do duodécimo. "Chegou ao ponto que nós quitamos a conta com 22 promissórias de R$ 700 mil, que foram encontradas pela Polícia Federal. Tanto que os cheques da [operação] Arca de Noé são referentes a esses pagamentos".
"Havia sempre suplementações além do orçamento para essa finalidade. Essas 22 promissórias de R$ 700 mil foram um repasse a mais que o governador Dante [de Oliveira] fez na época exatamente com essa finalidade. Pegou o meu mandato e do Bosaipo. Assumimos em fevereiro a Mesa [Diretora da AL] e pagamos até novembro [de 2002] e em dezembro estourou a operação", contou ainda.
VEJA ÍNTEGRA DA ENTREVISTA DE JOSÉ RIVA AO DEPUTADO WILSON SANTOS:
Operação Arca de Noé
Deflagrada em 2002, a Operação Arca de Noé revelou um esquema de desvio de dinheiro público liderado pelos ex-deputados José Riva e Humberto Bosaipo. Os cheques eram emitidos pela Assembleia Legislativa como se fossem pagamentos para empresa, mas os serviços não eram prestados. Esses cheques eram trocados na factoring de Arcanjo, que sabia das fraudes e mesmo assim recebia os pagamentos que eram referentes a dívidas antigas do Parlamento.
Por causa das fraudes Arcanjo chegou a ser preso em maio de 2003, no Uruguai, depois de ficar meses foragido. Ele ficou detido por 15 anos e conseguiu progressão de pena do regime fechado para o semiaberto em fevereiro de 2018. Nos últimos anos ele teve vários processos oriundos da Operação Arca de Noé prescritos por ter mais de 70 anos, o que reduz pela metade o tempo para a prescrição