Uma startup com nome de asteroide vai testar na fazenda do produtor de grãos Gil Pinesso, em Mato Grosso, o maior drone agrícola de pulverização do mundo. O equipamento tem capacidade de levar 400 quilos de defensivos em voo autônomo, com uso de tecnologias da Inteligência Artificial (IA) e Internet das Coisas (IoT). Os testes devem começar em agosto.
Para se ter uma ideia do gigantismo do equipamento inspirado no design do avião americano de reconhecimento militar Black Bird, o maior drone pulverizador já apresentado no país tem capacidade de 60 quilos.
O Harpia P-71 foi desenvolvido pela Psyche Aerospace, empresa que nasceu em dezembro de 2022 incubada no hub do Parque de Inovação Tecnológica de São José dos Campos (SP) e que hoje funciona em uma área de 6 mil m² na zona sul da cidade do interior paulista. O drone opera com um motor híbrido de etanol e baterias, pode pulverizar 40 hectares por hora e tem autonomia de 10 horas de voo.
O equipamento experimental foi exposto no evento Vision Tech Summit-Agro, realizado em Ribeirão Preto na primeira metade do mês. Com tecnologia 100% brasileira, o drone se reabastece sozinho em um equipamento denominado Beluga, também desenvolvido pela startup Psyche, fundada e dirigida por Gabriel Pereira Leal, um jovem de 23 anos autodidata, sem formação universitária.
“Eu tinha um projeto para mineração de asteroides, sempre me interessei em desenvolver tecnologia para o setor aeroespacial, e o setor que identifiquei como melhor oportunidade de negócios é o agro, que tem fazendas gigantes no Centro-Oeste e onde a pulverização com tratores ou avião é ineficiente ou muito cara”, conta Leal, filho e neto de agropecuaristas baianos que se mudou para São José dos Campos há dois anos.
Segundo ele, o drone tem sido usado no Brasil como um brinquedo agrícola, embora tenha tecnologia semelhante à de um avião. “A ideia de fazer o maior drone do mundo segue a grandeza do agro brasileiro”, diz.
Já foram construídos seis protótipos do Harpia-P71, que tem estrutura em material composto com fibra de vidro e fibra de carbono, 4,5 metros de comprimento, asa de 8 metros de largura e decola com 780 quilos. Em março, foi feito o primeiro voo oficial do equipamento em São José dos Campos.
O voo foi coordenado pelo engenheiro aeroespacial Gabriel de Paula, que trabalha na Psyche desde o início do projeto. Segundo ele, não havia nenhuma referência de voos de drone com esse tamanho e comandos tão sensíveis. “Voar o P-71 e garantir sua estabilidade representou um grande desafio que exigiu muito foco e atenção e me deu uma satisfação pessoal muito grande.”
De acordo com o CEO da Psyche, o drone não será vendido, e prestará serviços aos produtores agrícolas. O plano de negócios inclui mapear primeiro a área para traçar as linhas que o equipamento vai pulverizar seletivamente, definir altitude necessária, vazão para o bico, velocidade e angulação. Na sequência, uma frota do Harpia P-71 é enviada para pulverizar as lavouras, com foco na cana-de-açúcar, citros e grãos. O custo será de R$ 20 por hectare por aplicação.
“O produtor não precisa ter o controle do drone, que é um equipamento de alta tecnologia, que demanda muita capacitação para efetuar a pulverização corretamente, com rapidez e segurança. Ele só quer a aplicação. Nos Estados Unidos, a maioria dos serviços nas lavouras é terceirizada. No Brasil, isso não acontece por fator de confiança e pelos preços altos. Eu consigo garantir que o drone vai fazer o trabalho e o agricultor poderá acompanhar tudo por um aplicativo”, diz Leal.
Início da operação
Ele afirma que já tem pré-contrato anual com produtores de grãos da região Centro Oeste e fazendeiros paulistas do setor de cana para pulverizar 1,5 milhão de hectares. Com a validação dos testes na fazenda do Mato Grosso, o Harpia P-71 deve começar a operar comercialmente até o fim do ano.
O equipamento é voltado para atender os grandes produtores, mas em uma segunda fase a empresa espera fechar contratos também com cooperativas agropecuárias para prestar serviço a médios e pequenos produtores.
Na simulação de pulverização de uma área de 1.000 hectares apresentada pela startup aos potenciais investidores, a frota autônoma de seis superdrones faz o serviço em cinco horas, enquanto um trator demora de quatro a cinco dias, um avião precisa de um ou dois dias e um drone manual, de 15 a 17 dias.
A Psyche tem 100% do capital privado e valuation de R$ 75 milhões, de acordo com Gabriel Leal. Ele conta que começou o negócio com dinheiro próprio. No aporte pré-seed captou R$ 2 milhões do investidor Éder Medeiros, e em junho deste ano recebeu mais R$ 15 milhões de outro investidor do Rio Grande do Sul, que prefere o anonimato.
A fábrica em São José dos Campos tem 60 funcionários, entre engenheiros, técnicos e pessoal administrativo e comercial. E o plano da startup é contratar mais 40 empregados nos próximos meses para a fabricação diária de três drones.