O dólar fechou em forte alta de 1,50%, a R$ 5,91, o maior valor no mês de fevereiro, nesta sexta-feira (28/2). Com isso, a moeda americana passou a acumular alta de 1,35% em relação ao real neste mês, mas queda de 4,26%no ano.
No horário de fechamento do dólar, às 17 horas, a Bolsa brasileira (B3) operava em acentuada queda. O Ibovespa, o principal índice da B3, registrava recuo de 1,33%, aos 123.130 pontos.
Na avaliação de Emerson Vieira Junior, responsável pela mesa de câmbio da Convexa Investimentos, não faltaram fatores para impulsionar a incerteza dos investidores nesta sexta-feira.
Quadro interno
No cenário interno, cita Vieira Junior, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, para ocupar a Secretaria de Relações Institucionais (SRI). Ela vai ocupar o posto que era de Alexandre Padilha, que foi deslocado para o Ministério da Saúde.
Gleisi é a maior crítica do mercado entre os petistas. Além disso, alguns especialistas temem que a sua presença no ministério de Lula provoque um isolamento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Por fim, há ainda o temor que a articulação entre o governo e o Congresso, que vinha sendo conduzida por Padilha, seja prejudicada.
Agenda econômica
“A indicação de Gleisi provoca preocupação no mercado”, diz Alexsandro Nishimura, diretor da fintech Nomos. “Há uma percepção de que a deputada federal compõe a ala mais radical do PT, além de ter sido voz ativa contra medidas de ajuste fiscal, o que pode dificultar a agenda econômica.”
Há, contudo, quem acredite que a indicação de Gleisi Hoffmann para a SRI não tenha sido uma alavanca de destaque para a alta do dólar nesta sexta-feira. “Sinceramente, o mercado já esperava por isso e acredito”, afirma Rodrigo Cohen, co-fundador da Escola de Investimentos.
Ambiente externo
No cenário externo, as turbulências, sob o ponto de vista dos agentes econômicos, não foram menores. É iminente a vigência das tarifas de importação fixadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele determinou que elas passem a valer em 4 de março, contra Canadá (exceto itens de energia) e México (25%), além da China (10%).
As perspectivas geopolíticas também degringolaram. Nesta sexta-feira, Trump recebeu o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na Casa Branca. Ambos pretendiam discutir o futuro da guerra na Ucrânia e um acordo sobre minerais de terras raras. Na reunião, contudo, os dois líderes subiram o tom e bateram boca.
Inflação nos EUA
Os investidores também acompanharam a divulgação do índice de preços (PCE, na sigla em inglês), um dos principais termômetros da inflação nos EUA. Ele registrou um avanço de 0,3% em janeiro, com o acumulado em 12 meses desacelerando de 2,6% para 2,5%, em dezembro.
Os números, para os analistas, foram positivos, pois mostram uma redução no processo inflacionário americano. Não há consenso, contudo, se a queda terá algum peso nas próximas decisões do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) na redução da taxa de juros, fixada atualmente no intervalo entre 4,25% e 4,50% ao ano.
Guerra da Ptax
Acrescente-se que, no caso do dólar, o último dia do mês, em qualquer mês, é especialmente volátil. Nesses momentos, o mercado trava o que os analistas chamam de a “guerra da Ptax”. A Ptax é uma média do preço do dólar em relação ao real, calculada pelo Banco Central (BC). Ela serve de referência para contratos de câmbio.
No fim do mês, empresas e investidores tentam influenciar o preço da moeda americana para que a média lhes seja favorável. Com isso, esses grupos vendem ou compram grandes quantidades de dólar para puxar a cotação da moeda para cima ou para baixo, na tentativa de afetar a média final.