Filho do governador de MT foi diretor de mineradora alvo da PF e renunciou durante investigação
Luis Antônio Taveira Mendes, filho do governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), foi diretor da empresa Mineração Ltda Kin, que é investigada por compra de mercúrio ilegal usado para extração de ouro na Amazônia, em agosto de 2022, e renunciou ao cargo em março deste ano, durante investigação da Polícia Federal.
O g1 entrou em contato com a defesa de Luis, mas, até a publicação desta reportagem, não obteve retorno.
“Aos sócios, mediante a presente, por motivos de ordem pessoal, apresento-lhes em caráter irrevogável e irretratável, minha renúncia ao cargo de diretor dessa sociedade a qual fui eleito consoante deliberação adotada no Constituição da empresa em 28 de novembro de 2019”, diz carta de renúncia assinada em 31 de março de 2023.
Apesar da saída da diretoria, Luis seguiu sócio da Kin Mineração Ltda e da empresa Mineração Aricá Ltda, ambas alvo da “Operação Hermes II”, deflagrada na última quarta-feira (8). À época, a defesa disse que o empresário não exerce nenhuma atividade de gestão ou tomada de decisão nas empresas investigadas, nem figura de forma direta como sócio.
As empresas citadas fizeram compras de mercúrio com emissão de notas fiscais de venda de bolas de aço e de ferro, quando, na verdade, se tratava do mineral, segundo investigadores.
Ainda de acordo com a PF, a Mineração Aricá nunca declarou compra de mercúrio, mas produziu mais de 900 mil gramas de ouro. As primeiras vendas teriam acontecido em junho de 2022.
Já para a Kin Mineradora os primeiros registros dessas compras foram em agosto daquele mesmo ano.
A investigação
A investigação começou em uma empresa de Paulínia (SP) que, segundo a PF, favorecia um dos maiores programas de uso ilegal de mercúrio.
Com permissão para produzir créditos de mercúrio, a empresa fraudou o sistema do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
A investigação da PF aponta que os crimes investigados estão relacionados ao contrabando e ocultação de elemento químico cujo objetivo final era o fornecimento de minas no Amazonas, Mato Grosso, Rondônia, Roraima e Pará.
Segundo a investigação da PF, o sistema funcionava da seguinte forma:
A corporação apurou que foram retiradas sete toneladas de créditos de mercúrio dos sistemas do Ibama. As principais formas usadas pelo grupo para fazer a movimentação dos valores foram:
Utilização de laranjas para ocultar o verdadeiro responsável pelas operações comerciais e financeiras ou o verdadeiro proprietário de bens e valores;
Utilização de empresas de fachada (sem sede física, com uso de testa de ferro ou laranja);
Mistura entre capital ilícito com eventual capital lícito gerado por empresas com certa atuação comercial, de modo a tornar mais difícil a separação de um e de outro pelas autoridades;
Utilização de empresas sem registro de funcionário;
Compra e venda de imóveis, com valorização artificial, para justificar a origem ilícita do dinheiro utilizado;
Blindagem patrimonial, por meio de manobras jurídicas e engenharia financeira/contábil;
Utilização ilegal dos sistemas do Ibama para dar aparente legalidade à circulação de quantidade exorbitante de mercúrio;
Uso do Aeroporto Internacional de Viracopos para transporte de mercúrio.
7 toneladas de créditos de mercúrio retirados do Ibama
A PF identificou uma extensa cadeia organizada de pessoas físicas e jurídicas envolvidas no esquema ilegal de comércio de mercúrio e de ouro extraído de garimpos na Amazônia.
O esquema teria retirado sete toneladas de créditos de mercúrio dos sistemas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
A investigação indica que o prejuízo aos cofres públicos é superior a R$ 5 bilhões.
A Justiça Federal de Campinas (SP) determinou o bloqueio de mais de R$ 2,9 bilhões dos investigados e definiu o pagamento de 200 salários mínimos em fiança preventiva.